“O português Alberto Pires de
Carvalho partiu de Jacobina para Xique-Xique , e mais tarde para
Tiririca, residindo nesse povoado e adquirindo por compra as terras. No povoado
de Saco dos Bois, vizinho a Itaguaçu, morava um fazendeiro que com a ajuda dos
vaqueiros, cachorros e ferrões aprisionaram uma índia que denominaram de
Felícia que com quatro anos estava mansa. Chegando ao conhecimento do Sr.
Alberto Pires de Carvalho a fama da beleza da índia, foi conhecê-la,
apaixonando-se, encontrando ali a futura esposa e mãe de seus vinte e quatro
filhos que aumentaram a população de Tiririca e iniciaram futuramente a de
Central.
O povoado de Riacho Largo
serviu como ponto de apoio, daí as famílias cresceram, o que fez com que alguns
começassem a procurar terras de maior produtividade. Foi assim que Izidro José
Ferreira cuidou de fazer uma rocinha na região do Juá da Espera, ao nascente de
Riacho Largo, em 1870. Não se contentando com as conquistas até ali, Izidro e
outros começaram a trabalhar em novos objetivos, novas conquistas, com picadas
na caatinga trabalhado por vários dias, eram quatro sendo os outros três
os dois filhos Manoel, Lúcio Ferreira e o seu genro Francisco Ferreira dos
Santos, vulgo Chico Ferreira.
Trabalhavam arduamente e
dormiam na mata, sempre em direção ao nascente. No quinto dia de serviço, após
ultrapassarem a área hoje, Central, voltaram um pouco, mas à noite não dormiram
por causa da sede, pois não mais servia a água de caroá e outras plantas. Pela
manhã, entretanto, viram pássaros voando numa só direção e Manoel Ferreira,
destemido e curioso, viajou na direção do voo dos pássaros e, ao sair do sol,
encontrou as pedreiras da toca Velha, mas sendo a toda de dentro, ao sul da
outra e nela havia um pouquinho de água. Manoel Ferreira gritou seus
companheiros e todos beberam à vontade, permanecendo ai por dois dias,
planejando a volta para o Riacho Largo, até que encontraram a área que
atualmente encontra se Central.”
BREVE HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO GERAL
O município de Central com 52 anos de emancipação política ocupa uma
área de 476 KM² localizada a 502 km da Capital do Estado, às margens da BR 052
na Estrada do Feijão, região semi-árida a noroeste da Bahia, no Território de
Irecê. Com uma população estimada em 18.029 habitantes, sua sociedade é formada
por um povo que tem origens na miscigenação entre indígenas, africanos e
europeus e que traz na maneira de trabalhar a terra, na culinária e nos
festejos, características das culturas que os originaram. Hoje possui entre sua
população grupos Quilombolas em processo de reconhecimento, porém a
descendência indígena ainda carece de estudos e valorização.
A CULTURA NO MUNICÍPIO
O trabalho aqui apresentado é um levantamento sobre o estudo da Cultura
do Município de Central, que vem sendo construída de forma participativa pela
Secretaria de Educação e Cultura, através do Departamento de Arte e Cultura e
dos parceiros dos Pontos de Cultura Manoel Viola e o Viva Arte, das associações
culturais e do COMAC - Comitê de Associações Comunitárias de Central, em
reuniões, encontros, Conferência Municipal de Cultura assim como da busca de
consolidação do Sistema Municipal de Cultura.
As maiores dificuldades encontradas nesse estudo foi com relação às
fontes de pesquisa encontradas, visto que o município ainda não dispõe de
diagnóstico ou mapeamento cultural condizente com a sua realidade cultural,
além do que a pesquisa MUNIC/IBGE 2006, encontra-se defasada ou pouco
ilustrativa da realidade local. Outra grande dificuldade foi o tempo disponível
das pessoas entrevistadas, pois ocupar de muitas outras responsabilidades,
ambos trabalhavam em municípios diferentes.
A vegetação predominante é a Caatinga, cortada por
rochas e serras onde se detectou riquíssimo patrimônio paleontológico datado de
cerca de 10.000 anos. As serras existentes têm em média 800 metros de
altitude apresentando fendas e tocas esculpidas nas rochas com a denominação
local de grota, grutas, boqueirões, tanques e fontes, locais com presença de
água, como Grota da Pitanga, Grota dos bois, Gruta da Lapinha, Riacho Largo,
Boqueirão de Maxixe, Fonte Grande, etc. Ao longo dessas fontes e grotas o homem
pré-histórico, estudado desde 1983 pela a professora Drª Maria Beltrão[1],
deixou marcas do seu passado através de pinturas em cavernas e cânion, como
também dos utensílios achados em cacimbas e tanques onde se verifica a
existência de ossos fossilizados de animais pré-históricos e extintos
[1] Maria Beltrão é pesquisadora do setor
de arqueologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ, que desenvolve pesquisas no município de Central com o apoio do CNPQ.
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Este patrimônio arqueológico prospectado pela Drª. Maria Beltrão
apresenta-se em bom estado de conservação e retrata formas geométricas,
cosmológicas e ritualísticas, desde sinais simples às formas altamente
elaboradas, constituindo pequenos e grandes painéis dispostos aleatoriamente ou
organizados nos paredões desses grotões. A pesquisa científica do Projeto
Central de Arqueologia, coordenado pela professora Maria Beltrão descobriu
dentre fósseis humanos pesquisados, vestígios de homens africanos e indígenas
que viveram neste Território há mais de 10.000 anos
Grande parte dos agricultores pratica a agricultura familiar de
subsistência e participam de manifestações culturais através dos grupos de
cultura popular como os Ternos de Reis, as rodas de São Gonçalo, as cantigas de
roda assim como há uma rica produção de literatura de cordel, de artesanatos, e
de outras expressões artísticas como as artes plásticas e a música. O ponto de
partida para o despertar dos grupos de cultura popular foi à participação destes
no I Festival das
Primeiras Águas realizadas em 2006 pela Rede de
Cultura Popular de Irecê, com o apoio de entidades sociais do Território.
ASPECTOS CULTURAIS
Diversidades de manifestações culturais locais, as áreas
culturais predominantes e identitárias, grupos culturais existentes e atuantes:
O município possui uma rica tradição das manifestações da cultura
popular. Embora na pesquisa Munic IBGE 2006 apareça apenas um grupo de Terno de
Reis, na Análise Cultural da SECULT-BA 2009 encontramos registros de sete
grupos de Ternos de Reis e um grupo de Roda de São Gonçalo, cuja
origem destes grupos é o município de Sento Sé trazido para esta região nos
anos de 1945, pela família Croa. Originalmente estes grupos faziam suas
manifestações com músicas, danças e rezas por motivos religiosos, hoje
encontramos alguns deles que saem apenas pela tradição festiva que herdaram de
seus familiares, mas que prestam um serviço importantíssimo à memória das
tradições populares do município de Central. Para a diretora de cultura do
município, Mariluze Oliveira Amaral, pesquisadora da cultura de Central, essas
manifestações têm raízes em matrizes africanas e indígenas percebidas através
dos instrumentos e vestimentas que usam como os tambores de carnaúba, as danças
e as vestimentas coloridas. Com mais de 60 anos de tradição, os grupos de
Ternos de Reis e o de Roda de São Gonçalo, são formados por famílias de
agricultores todos na zona rural. Esta Manifestação por muitas décadas ficou
esquecida pelo poder publico e por parte da sociedade, o que levou muitos
grupos ao risco de extinção, mas a partir da década de 90, com a articulação e
os Festivais das Primeiras Águas realizadas pela Rede de Cultura Popular do
Território de Irecê, os grupos que estavam fragilizados passaram a sofrer novas
influências pelos seus pares, elevaram sua auto-estima e com o apoio da rede e
da Prefeitura Municipal de Central, hoje o município além de ter catalogado
estes grupos, faz um trabalho de recuperação dos que ainda se encontram muito
fragilizados. Por serem agricultores e devido à falta de política agrícola para
a agricultura familiar, todos vivem grandes dificuldades financeiras.
Outro Registro de manifestação cultural muito importante para o
município é a literatura de cordel. Na análise cultural do município feita para
a SECULT BA pelos dirigentes de cultura do município, encontra-se o registro de
oito escritores de literatura de cordel, alguns com livros já publicados. Esta
literatura fez parte da alfabetização de muitos munícipes é tão forte na
educação deste povo que encontramos aqui cordelistas que mesmo analfabetos têm
livros de cordel publicados, como Seu Miguel Viola e Wilson Alves da Silva.
A música é outra expressão artística muito viva no município, além de
músicos tradicionais da MPB, existe um crescente mercado de bandas musicais que
fazem as festas dos povoados do município e da região. O quadro abaixo é uma
amostra mais próxima da realidade, pois, além de utilizarmos à pesquisa da
MUNIC, dados da Análise Cultural do Município/SECULT BA, a experiência do
pessoal da diretoria de cultura contribuiu para ampliar este quadro.
Diversidade
de atividades culturais
A Semana Nacional do Museu que realizará sua oitava edição em 2010, tem
em sua programação palestras, mesas redondas e visitação aos sítios
arqueológicos e conta com a participação da comunidade, dos estudantes,
professores e visitantes de escolas e universidades de outros municípios.
A prefeitura Municipal de Central realiza anualmente a festa de
aniversário do município dia 12 de agosto que é a maior festa do município que
atrai turistas de toda a região, com uma programação musical centrada nas
bandas que estão na mídia.
Os grupos de cultura popular, além de saírem em seus festejos
tradicionais durante as visitações das lapinhas, com o apoio da prefeitura, a
partir da articulação com a Rede de Cultura Popular, organizam encontros de
cultura popular onde reúnem num mesmo dia todos os grupos do município e alguns
convidados da região.
A religiosidade é uma característica forte do centralenses, onde
encontramos católicos, evangélicos, espíritas, e alguns terreiros de matrizes
africanas, mas em termos de festas religiosas, as procissões e festas de santos
da Igreja Católica como a Festa de Santa Luzia no Povoado de São João de
Arsênio, a Festa de São Sebastião no Povoado de Mandacaru, as procissões de
Santa Terezinha na sede e a de Nossa Srª. da Conceição do Povoado de Palmeiras,
ESPAÇOS E
EQUIPAMENTOS CULTURAIS
02 PONTOS DE CULTURA:
Em 2007 a SECULT realizou uma oficina para
elaboração de projetos do Edital Ponto de Cultura no Território de Irecê. O
resultado desta oficina foi a participação de 6 municípios neste Edital e a
conquista para o município de Central de 2 Pontos de Cultura, conforme
demonstra o quadro a seguir:
O PRIMEIRO:
Ponto de Cultura
Viver com Arte
Entidade
mantenedora: ACAAC – Associação dos Artistas e Artesões de Central, organização
com uma longa história no apoio a cultura centralense, responsável pelas
realizações de várias Amostras de Cultura e incentivo ao artesanato, composta
de Artistas e Artesões do município. Atualmente está realizando as oficinas de
música (violão), artesanato e software livre
Entidade Mantenedora: COMAC – Comitê Municipal das Associações de Central, Organização fundada em 1988, com uma longa história de apoio ao associativismo e as manifestações culturais, responsável pela coordenação de 45 associações comunitárias, compostas basicamente de agricultores familiares, artistas e artesões. Têm participado de vários editais relacionados à cultura, dentre eles o BNB Cultural e Pontos de Cultura. Há uma parceria estreita com a Prefeitura de Central através da Secretaria de Educação e Cultura pela cessão de espaço físico, funcionários e assessoria na elaboração de projetos culturais e agrícolas.
SITUAÇÕES DA CAPACITAÇÃO E COMPETÊNCIAS DE AGENTES
CULTURAIS,
ARTISTAS, PRODUTORES E GESTORES CULTURAIS.
A parceria com as entidades culturais, artistas, associações
comunitárias, na elaboração de projetos culturais individuais e coletivos e a
aprovação de vários destes, têm aproximado os agentes culturais da Secretaria
de Educação e Cultura, embora a carência de formação em gestão e elaboração de
projetos ainda é uma lacuna no município.
A partir de 2009, com a aprovação e o desenvolvimento das atividades dos
pontos de cultura em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura, foram
realizadas oficinas nas áreas de música, teatro, audiovisual, capoeira,
informática e artesanato envolvendo cerca de 400 estudantes do município.
O município, através da indústria cidadã (programa do governo estadual
em parceria com o município), realizou oficinas de corte e costura e artesanato
para mulheres provenientes do Loteamento Casas Populares.
Realização de oficinas de artesanato pelo Pró Jovem (programa federal em
parceria com o município), para estudantes atendidos pelo programa bolsa
família.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após análise dos dados obtidos através dos
Levantamentos da pesquisa MUNIC/IBGE 2006, da Análise Cultural do Município de
Central/SECULT-BA 2009, dos dados da SEI e das informações colhidas em
reuniões, na I Conferência Municipal de Cultura e em escutas de relatos de
pessoas com amplo conhecimento sobre a realidade sociocultural do município,
pudemos observar a riqueza e diversidade cultural e social existente em
Central, entretanto a ausência do Sistema Municipal de Cultura e a pouca
capacidade de captação de recursos pelas
entidades socioculturais, assim como o tradicional modelo de gestão vigente nessas instituições, são desafios
ao desenvolvimento de uma política cultural descentralizada.
Pensar as políticas de desenvolvimento da cultura
para o município de Central levando em consideração a pouca formação nas
linguagens artístico-culturais, a ausência de um espaço adequado para fruição e
acesso aos bens culturais e a necessidade de maiores investimentos na criação e
produção destes bens, implica na institucionalização da cultura, como também na
formação dos agentes socioculturais em gestão participativa e cultural.
Assim, para a valorização, apoio e desenvolvimento
da cultura no município de Central-BA, necessário se fazer a implantação do
Sistema Municipal de Cultura com todas as suas instâncias, e a formulação de
uma política cultural democrática, focada na formação dos gestores
socioculturais, artistas e novos agentes culturais do município.
Através dessa analise as culturas estão
desenvolvendo e si transformando aos pouco, tanto no nível econômico e social,
pois as culturas são quem dão origem uma sociedade, para que seus significados
sejam preservados séculos após séculos.
REFERÊNCIA:
Índices de Desenvolvimento Econômico
e Social dos Municípios Baianos 2004.
Munic IBGE 2006 - Pesquisa.
SECULT-BA 2009 - Análise Cultural do
Município -
Levantamento de dados culturais do
município / Departamento de Cultural 2009.
Wikipédia 2010 / História do
município.
Atlas dos Territórios de Identidade
do Estado da Bahia – SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da
Bahia.
Mariluze Oliveira Amaral-Gerente do Dep. De Arte e Cultura.
Adalberto Martins - Secretário de Educação Cultura Esporte e Lazer.
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