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terça-feira, 30 de abril de 2013

HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE CENTRAL/ BAHIA







“O português Alberto Pires de Carvalho partiu de Jacobina para Xique-Xique  , e mais tarde para Tiririca, residindo nesse povoado e adquirindo por compra as terras. No povoado de Saco dos Bois, vizinho a Itaguaçu, morava um fazendeiro que com a ajuda dos vaqueiros, cachorros e ferrões aprisionaram uma índia que denominaram de Felícia que com quatro anos estava mansa. Chegando ao conhecimento do Sr. Alberto Pires de Carvalho a fama da beleza da índia, foi conhecê-la, apaixonando-se, encontrando ali a futura esposa e mãe de seus vinte e quatro filhos que aumentaram a população de Tiririca e iniciaram futuramente a de Central.
O povoado de Riacho Largo serviu como ponto de apoio, daí as famílias cresceram, o que fez com que alguns começassem a procurar terras de maior produtividade. Foi assim que Izidro José Ferreira cuidou de fazer uma rocinha na região do Juá da Espera, ao nascente de Riacho Largo, em 1870. Não se contentando com as conquistas até ali, Izidro e outros começaram a trabalhar em novos objetivos, novas conquistas, com picadas na caatinga  trabalhado por vários dias, eram quatro sendo os outros três os dois filhos Manoel, Lúcio Ferreira e o seu genro Francisco Ferreira dos Santos, vulgo Chico Ferreira.
Trabalhavam arduamente e dormiam na mata, sempre em direção ao nascente. No quinto dia de serviço, após ultrapassarem a área hoje, Central, voltaram um pouco, mas à noite não dormiram por causa da sede, pois não mais servia a água de caroá e outras plantas. Pela manhã, entretanto, viram pássaros voando numa só direção e Manoel Ferreira, destemido e curioso, viajou na direção do voo dos pássaros e, ao sair do sol, encontrou as pedreiras da toca Velha, mas sendo a toda de dentro, ao sul da outra e nela havia um pouquinho de água. Manoel Ferreira gritou seus companheiros e todos beberam à vontade, permanecendo ai por dois dias, planejando a volta para o Riacho Largo, até que encontraram a área que atualmente encontra se Central.”

  BREVE HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO GERAL
O município de Central com 52 anos de emancipação política ocupa uma área de 476 KM² localizada a 502 km da Capital do Estado, às margens da BR 052 na Estrada do Feijão, região semi-árida a noroeste da Bahia, no Território de Irecê. Com uma população estimada em 18.029 habitantes, sua sociedade é formada por um povo que tem origens na miscigenação entre indígenas, africanos e europeus e que traz na maneira de trabalhar a terra, na culinária e nos festejos, características das culturas que os originaram. Hoje possui entre sua população grupos Quilombolas em processo de reconhecimento, porém a descendência indígena ainda carece de estudos e valorização.
A CULTURA NO MUNICÍPIO

O trabalho aqui apresentado é um levantamento sobre o estudo da Cultura do Município de Central, que vem sendo construída de forma participativa pela Secretaria de Educação e Cultura, através do Departamento de Arte e Cultura e dos parceiros dos Pontos de Cultura Manoel Viola e o Viva Arte, das associações culturais e do COMAC - Comitê de Associações Comunitárias de Central, em reuniões, encontros, Conferência Municipal de Cultura assim como da busca de consolidação do Sistema Municipal de Cultura.
As maiores dificuldades encontradas nesse estudo foi com relação às fontes de pesquisa encontradas, visto que o município ainda não dispõe de diagnóstico ou mapeamento cultural condizente com a sua realidade cultural, além do que a pesquisa MUNIC/IBGE 2006, encontra-se defasada ou pouco ilustrativa da realidade local. Outra grande dificuldade foi o tempo disponível das pessoas entrevistadas, pois ocupar de muitas outras responsabilidades, ambos trabalhavam em municípios diferentes.
A vegetação predominante é a Caatinga, cortada por rochas e serras onde se detectou riquíssimo patrimônio paleontológico datado de cerca de 10.000 anos. As serras existentes têm em média 800 metros de altitude apresentando fendas e tocas esculpidas nas rochas com a denominação local de grota, grutas, boqueirões, tanques e fontes, locais com presença de água, como Grota da Pitanga, Grota dos bois, Gruta da Lapinha, Riacho Largo, Boqueirão de Maxixe, Fonte Grande, etc. Ao longo dessas fontes e grotas o homem pré-histórico, estudado desde 1983 pela a professora Drª Maria Beltrão[1], deixou marcas do seu passado através de pinturas em cavernas e cânion, como também dos utensílios achados em cacimbas e tanques onde se verifica a existência de ossos fossilizados de animais pré-históricos e extintos 


[1] Maria Beltrão é pesquisadora do setor de arqueologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, que desenvolve pesquisas no município de Central com o apoio do CNPQ.

Pintura rupestre no Riacho Largo, Central-BA

Este patrimônio arqueológico prospectado pela Drª. Maria Beltrão apresenta-se em bom estado de conservação e retrata formas geométricas, cosmológicas e ritualísticas, desde sinais simples às formas altamente elaboradas, constituindo pequenos e grandes painéis dispostos aleatoriamente ou organizados nos paredões desses grotões. A pesquisa científica do Projeto Central de Arqueologia, coordenado pela professora Maria Beltrão descobriu dentre fósseis humanos pesquisados, vestígios de homens africanos e indígenas que viveram neste Território há mais de 10.000 anos
Grande parte dos agricultores pratica a agricultura familiar de subsistência e participam de manifestações culturais através dos grupos de cultura popular como os Ternos de Reis, as rodas de São Gonçalo, as cantigas de roda assim como há uma rica produção de literatura de cordel, de artesanatos, e de outras expressões artísticas como as artes plásticas e a música. O ponto de partida para o despertar dos grupos de cultura popular foi à participação destes no I Festival das
Primeiras Águas realizadas em 2006 pela Rede de Cultura Popular de Irecê, com o apoio de entidades sociais do Território.
ASPECTOS CULTURAIS
  Diversidades de manifestações culturais locais, as áreas culturais predominantes e identitárias, grupos culturais existentes e atuantes:
O município possui uma rica tradição das manifestações da cultura popular. Embora na pesquisa Munic IBGE 2006 apareça apenas um grupo de Terno de Reis, na Análise Cultural da SECULT-BA 2009 encontramos registros de sete grupos   de Ternos de Reis e um grupo de Roda de São Gonçalo, cuja origem destes grupos é o município de Sento Sé trazido para esta região nos anos de 1945, pela família Croa. Originalmente estes grupos faziam suas manifestações com músicas, danças e rezas por motivos religiosos, hoje encontramos alguns deles que saem apenas pela tradição festiva que herdaram de seus familiares, mas que prestam um serviço importantíssimo à memória das tradições populares do município de Central. Para a diretora de cultura do município, Mariluze Oliveira Amaral, pesquisadora da cultura de Central, essas manifestações têm raízes em matrizes africanas e indígenas percebidas através dos instrumentos e vestimentas que usam como os tambores de carnaúba, as danças e as vestimentas coloridas. Com mais de 60 anos de tradição, os grupos de Ternos de Reis e o de Roda de São Gonçalo, são formados por famílias de agricultores todos na zona rural. Esta Manifestação por muitas décadas ficou esquecida pelo poder publico e por parte da sociedade, o que levou muitos grupos ao risco de extinção, mas a partir da década de 90, com a articulação e os Festivais das Primeiras Águas realizadas pela Rede de Cultura Popular do Território de Irecê, os grupos que estavam fragilizados passaram a sofrer novas influências pelos seus pares, elevaram sua auto-estima e com o apoio da rede e da Prefeitura Municipal de Central, hoje o município além de ter catalogado estes grupos, faz um trabalho de recuperação dos que ainda se encontram muito fragilizados. Por serem agricultores e devido à falta de política agrícola para a agricultura familiar, todos vivem grandes dificuldades financeiras.
Outro Registro de manifestação cultural muito importante para o município é a literatura de cordel. Na análise cultural do município feita para a SECULT BA pelos dirigentes de cultura do município, encontra-se o registro de oito escritores de literatura de cordel, alguns com livros já publicados. Esta literatura fez parte da alfabetização de muitos munícipes é tão forte na educação deste povo que encontramos aqui cordelistas que mesmo analfabetos têm livros de cordel publicados, como Seu Miguel Viola e Wilson Alves da Silva.
A música é outra expressão artística muito viva no município, além de músicos tradicionais da MPB, existe um crescente mercado de bandas musicais que fazem as festas dos povoados do município e da região. O quadro abaixo é uma amostra mais próxima da realidade, pois, além de utilizarmos à pesquisa da MUNIC, dados da Análise Cultural do Município/SECULT BA, a experiência do pessoal da diretoria de cultura contribuiu para ampliar este quadro.
    Diversidade de atividades culturais
A Semana Nacional do Museu que realizará sua oitava edição em 2010, tem em sua programação palestras, mesas redondas e visitação aos sítios arqueológicos e conta com a participação da comunidade, dos estudantes, professores e visitantes de escolas e universidades de outros municípios.
A prefeitura Municipal de Central realiza anualmente a festa de aniversário do município dia 12 de agosto que é a maior festa do município que atrai turistas de toda a região, com uma programação musical centrada nas bandas que estão na mídia.
Os grupos de cultura popular, além de saírem em seus festejos tradicionais durante as visitações das lapinhas, com o apoio da prefeitura, a partir da articulação com a Rede de Cultura Popular, organizam encontros de cultura popular onde reúnem num mesmo dia todos os grupos do município e alguns convidados da região.
A religiosidade é uma característica forte do centralenses, onde encontramos católicos, evangélicos, espíritas, e alguns terreiros de matrizes africanas, mas em termos de festas religiosas, as procissões e festas de santos da Igreja Católica como a Festa de Santa Luzia no Povoado de São João de Arsênio, a Festa de São Sebastião no Povoado de Mandacaru, as procissões de Santa Terezinha na sede e a de Nossa Srª. da Conceição do Povoado de Palmeiras,
ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS CULTURAIS

 02 PONTOS DE CULTURA:
Em 2007 a SECULT realizou uma oficina para elaboração de projetos do Edital Ponto de Cultura no Território de Irecê. O resultado desta oficina foi a participação de 6 municípios neste Edital e a conquista para o município de Central de 2 Pontos de Cultura, conforme demonstra o quadro a seguir:
O PRIMEIRO:

Ponto de Cultura Viver com Arte
Entidade mantenedora: ACAAC – Associação dos Artistas e Artesões de Central, organização com uma longa história no apoio a cultura centralense, responsável pelas realizações de várias Amostras de Cultura e incentivo ao artesanato, composta de Artistas e Artesões do município. Atualmente está realizando as oficinas de música (violão), artesanato e software livre

          Entidade Mantenedora: COMAC – Comitê Municipal das Associações de Central, Organização fundada em 1988, com uma longa história de apoio ao associativismo e as manifestações culturais,     responsável pela coordenação de 45 associações comunitárias, compostas basicamente de agricultores familiares, artistas e artesões. Têm participado de vários editais relacionados à cultura, dentre eles o BNB Cultural e Pontos de Cultura. Há uma parceria estreita com a Prefeitura de Central através da Secretaria de Educação e Cultura pela cessão de espaço físico, funcionários e  assessoria na elaboração de projetos culturais e agrícolas.


                  SITUAÇÕES DA CAPACITAÇÃO E COMPETÊNCIAS DE AGENTES
 CULTURAIS, ARTISTAS, PRODUTORES E GESTORES CULTURAIS.
 A parceria com as entidades culturais, artistas, associações comunitárias, na elaboração de projetos culturais individuais e coletivos e a aprovação de vários destes, têm aproximado os agentes culturais da Secretaria de Educação e Cultura, embora a carência de formação em gestão e elaboração de projetos ainda é uma lacuna no município.

A partir de 2009, com a aprovação e o desenvolvimento das atividades dos pontos de cultura em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura, foram realizadas oficinas nas áreas de música, teatro, audiovisual, capoeira, informática e artesanato envolvendo cerca de 400 estudantes do município.
O município, através da indústria cidadã (programa do governo estadual em parceria com o município), realizou oficinas de corte e costura e artesanato para mulheres provenientes do Loteamento Casas Populares.
Realização de oficinas de artesanato pelo Pró Jovem (programa federal em parceria com o município), para estudantes atendidos pelo programa bolsa família.
                        CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise dos dados obtidos através dos Levantamentos da pesquisa MUNIC/IBGE 2006, da Análise Cultural do Município de Central/SECULT-BA 2009, dos dados da SEI e das informações colhidas em reuniões, na I Conferência Municipal de Cultura e em escutas de relatos de pessoas com amplo conhecimento sobre a realidade sociocultural do município, pudemos observar a riqueza e diversidade cultural e social existente em Central, entretanto a ausência do Sistema Municipal de Cultura e a pouca capacidade de captação de recursos pelas entidades socioculturais, assim como o tradicional modelo de gestão vigente nessas instituições, são desafios ao desenvolvimento de uma política cultural descentralizada.  
 Pensar as políticas de desenvolvimento da cultura para o município de Central levando em consideração a pouca formação nas linguagens artístico-culturais, a ausência de um espaço adequado para fruição e acesso aos bens culturais e a necessidade de maiores investimentos na criação e produção destes bens, implica na institucionalização da cultura, como também na formação dos agentes socioculturais em gestão participativa e cultural.
Assim, para a valorização, apoio e desenvolvimento da cultura no município de Central-BA, necessário se fazer a implantação do Sistema Municipal de Cultura com todas as suas instâncias, e a formulação de uma política cultural democrática, focada na formação dos gestores socioculturais, artistas e novos agentes culturais do município.
Através dessa analise as culturas estão desenvolvendo e si transformando aos pouco, tanto no nível econômico e social, pois as culturas são quem dão origem uma sociedade, para que seus significados sejam preservados séculos após séculos.



 REFERÊNCIA:  

Índices de Desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios Baianos 2004.
Munic IBGE 2006 - Pesquisa.
SECULT-BA 2009 - Análise Cultural do Município -
Levantamento de dados culturais do município / Departamento de Cultural 2009.
Wikipédia 2010 / História do município.
Atlas dos Territórios de Identidade do Estado da Bahia – SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.
 Mariluze Oliveira Amaral-Gerente do Dep. De Arte e Cultura.

Adalberto Martins - Secretário de Educação Cultura Esporte e Lazer.

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